Design como Atividade Profissional
- Bruno Tavares
- 26 de nov. de 2019
- 4 min de leitura
O intuito desse trabalho é discorrer sobre o surgimento da profissão do designer, porque ela foi importante e quais diferenciais eram necessários para que os profissionais da época se destacassem.
O design teve seu surgimento numa época conturbada e extremamente competitiva para o mundo capitalista. A quebra da bolsa de 29 foi responsável pela dissolução de várias empresas e as que restaram precisavam de uma solução eficiente, um diferencial que chamasse a atenção do público para os seus produtos.
“O crash de Wall Street em 1929 e a Depressão que se seguiu criaram intensas pressões competitivas entre as empresas que sobreviveram.
Foi nesse contexto econômico que surgiu uma nova geração de desenhistas industriais. Eles vinham de diversas formações e seus métodos e realizações eram muito variados, mas o resultado de seu trabalho, o design, seria reconhecido como característica essencial da atividade comercial e industrial” (HESKETT, 1998, p.107).
Com o recente surgimento dessa profissão, vários designers neonatos foram contratados pelas empresas com o intuito de embelezar os seus produtos. Entretanto, destacavam-se principalmente aqueles que conseguiam dar um sentido àquela beleza, como Walter Dorwin Teague, que resolvia diversos problemas técnicos de forma estética com uma invejável maestria. Ele ficou famoso já em seus primeiros trabalhos, onde, para a American Sales Book Company e para a Heald, ele foi responsável por deixar suas máquinas, de escritório e maquinário pesado respectivamente, em peças bonitas e fáceis de manusear. Segundo HESKETT (1998, p.108 ) “Em cada caso, ele trabalhou com engenheiros das companhias, reduzindo uma confusão de alavancas, parafusos, fendas e protuberâncias a uma forma mais limpa e unificada que não só parecia mais atraente como tornava mais fáceis de operar os controles e partes essenciais ao funcionamento da máquina”. Graças a essa habilidade, Teague teve contratos cada vez maiores ao longo de sua vida.
Não somente ele, vários outros designers se destacaram ao longo dos anos seguintes, cada um com sua devida importância. Raymond Loewy e Henry Dreyfuss são exemplos importantes por também acreditarem nesse “design utilitário”. Dreyfuss, especificamente, destacava-se pela sua crença num design “de dentro pra fora”, chegando até mesmo a recusar trabalhos que requeressem que ele tratasse meramente da forma exterior. Um desses casos que ficou famoso foi o da Bell Telephone Company, que procurava um designer que fosse capacitado o suficiente para dar ideias sobre a forma dos futuros telefones. Dreyfuss manteve seus princípios e recusou-se a fazer o projeto até que a Bell permitisse que ele trabalhasse com os engenheiros da empresa.
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Model 302 de Henry Dreyfuss
Houveram uma série de outros designers importantes ao longo da história, trabalhando em diversas indústrias, seja automobilística ou doméstica, da mais completa cabine de trabalho do escritório ao suporte de fita adesiva. Todos esses profissionais precisavam ter jogo de cintura para se adaptar à disciplina comercial ou eram tragados e esquecidos pelo mercado, que se tornava cada vez mais competitivo.
Porém nem todos aqueles que não conseguiram se adaptar (ou simplesmente se recusaram a fazê-lo) foram necessariamente esquecidos, Norman Bel Gueddes é um ótimo exemplo dessa exceção. Para HESKETT (1998, p.113) “Ele era um idealista que tendia a desconsiderar a demanda popular e as limitações técnicas de produção.”. Esse tipo de comportamento foi apreciado por uns e criticado por outros, uns o consideravam um gênio enquanto que outros diziam que ele era apenas um louco que desperdiçava o dinheiro da indústria. No fim das contas, ir contra o mercado acabou não sendo muito bom para ele, já que sua agência foi levada à falência devido a falta de contratos, mas também, principalmente devido ao seu péssimo gerenciamento financeiro.
Ter sido esmagado pelo mercado não o impediu de ter sua importância, seu livro “Horizons”, lançado em 1932, teve sim sua influência. HESKETT (1998, p.113) disse que “Seu entusiasmo pela tecnologia estava ligado a um conceito dinâmico de progresso e no ideal de criar uma vida materialmente aperfeiçoada e esteticamente melhorada para todos através do avanço técnico”. Esse livro contava com diversos designs de aviões, navios e carros futuristas e foi muito importante para a popularização da aerodinâmica, que veio a se tornar tendência nos anos seguintes.
Todos os designers citados anteriormente tinham uma coisa em comum, todos eram dos Estados Unidos, mas eles não foram os únicos do mundo. Ao mesmo tempo em que a profissão surgia na América, era paralelamente desenvolvida na Europa. Embora tenha surgido no mesmo período, o desenvolvimento do designer europeu não foi semelhante por completo ao americano.
Wilhelm Wagenfeld, importante designer alemão, acreditava que o design industrial era uma arte cooperativa, independente aos métodos de trabalho dos artistas. Wagenfeld era famoso por seu trabalho em vidro prensado, utilizado em seus designs de artigos baratos, como canecas de cerveja e taças de vinho. Todos os seus trabalhos possuíam linhas limpas e curvas sutis, para explorar a qualidade dúctil do vidro. Seus trabalhos se estenderam também à cutelaria e ao design de luminárias elétricas.
Outro designer alemão foi Walter Maria Kersting, que embora seja menos conhecido Wagenfeld, não foi menos importante no pioneirismo do desenho industrial na Alemanha. Para ele, o papel do designer era criar artigos simples, baratos e imediatamente compreensíveis, esses artigos deveriam ser produzidos em larga escala para que pudessem ser adquiridos em qualquer lugar. O seu trabalho mais importante foi a criação do seu gabinete de rádio, feito em 1928, que serviu de base ao “Volksempfanger”, importante veículo de propaganda do regime nazista.
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Rádio de Walter Maria Kersting
Muitos designers surgiram nos anos seguintes em diversos países, trabalhando de diversas formas e em diversas áreas, e para HESKETT (1998, p.121) “Foram, entretanto, justamente essas qualidades de diversidade e versatilidade, uma capacidade de trabalhar soluções para problemas específicos em contextos variados, ao invés de impor genericamente formas ou estratégias estilísticas já prontas, que os fez ter tanto sucesso”. Concluímos então que a criatividade, a adaptabilidade e a capacidade de tornar algo bonito sem perder sua funcionalidade (ou o contrário) foi o que fez do designer uma das profissões mais importantes do século XX. Uma prova disso é que por volta dos anos 50, pouquíssimas eram as firmas, independente do tamanho, que não reconhecesse sua importância e empregasse designers, de forma direta ou como consultores.
Referêncial Teórico:
HESKETT, John. Desenho Industrial (1998)
Ficha técnica:
Texto desenvolvido por Bruno Tavares dos Santos para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo N. Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).
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